Colher de MEL #11: o dom do corpo - a podcast by Movimento de Juventudes e Espiritualidades Libertadoras

from 2020-07-05T08:00

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Neste domingo, eu gostaria de propor uma reflexão sobre as leituras do dia a partir do valor do corpo no centro da mensagem cristã.




Durante muitos anos (e em alguns casos ainda hoje) certas passagens bíblicas são lidas e interpretadas fora do contexto para justificar uma determinada prática cristã moralista, onde o corpo é desprezado. A segunda leitura de hoje, da carta de São Paulo aos Romanos, é uma típica passagem que corre o risco de ser interpretada de acordo com esse dualismo terrível que coloca corpo e espírito em oposição total. O que o apóstolo Paulo ressalta, e que parece ser esquecido nessas interpretações dualistas, é que Cristo nos livrou da lei do pecado e da morte. Esta deveria ser a nossa chave de leitura. O primordial é que pela vida, morte e ressurreição de Cristo, agora vivemos pelo Seu Espírito com a promessa certa da vida eterna se vivermos segundo o Seu amor.




Se Paulo é capaz de reconhecer que pelo Espírito vivemos, e não pela carne, não é para dizer que o corpo é mal, pois isso seria negar o dom da criação de Deus que nos fez corpo e até mesmo negar a encarnação de Cristo que se fez corpo. Reconhecer que vivemos pelo Espírito é reconhecer que nenhuma de nossas limitações, sejam limitações corporais como a fome, a sede, ou o cansaço, sejam limitações de pecados como a omissão ou a ação contra o próximo, se comparam à grandiosidade e soberania da Graça de Deus.




Ainda é difícil para nós, hoje, realmente entender quando Paulo afirma, por exemplo, que quando ele é fraco, então é que ele é forte. Por que nos custa tanto entender isso? Estamos tão acostumados a ver a fraqueza e as limitações humanas como coisas ruins, que nos esquecemos que são o único caminho para aceitar integralmente a nossa condição de criaturas de Deus. Somos fracos e limitados, sim, mas isso não quer dizer que somos ruins ou muito menos que o nosso corpo é mal. Somos capazes de nos relacionar e nos complementar em nossas limitações. Nosso corpo é parte integral de quem somos e é o que possibilita nos relacionarmos. Aquilo que me falta ou que não sou capaz de fazer, minha irmã ou meu irmão podem me auxiliar. Meu corpo vai ao encontro do meu próximo, assim como outros corpos vêm a meu encontro, para sermos a presença de Cristo aqui e agora – suas mãos e pés na construção do Reino de Deus, aqui e agora.




Se voltássemos a ler a Bíblia com as lentes do amor de Cristo, ficaria claro que a nossa preocupação deveria estar voltada para a prática da comunhão fraterna, e não para questões moralistas de cunho sexual. Cristo é manso e humilde de coração e quer nos mostrar que nossos corpos e nossas relações são capazes de viver segundo esse Seu amor manso e humilde. 




Isto não quer dizer que seja um caminho fácil. Realmente acolher e abraçar as nossas limitações é difícil, e lidar com as limitações dos outros ainda mais também. Mas é na construção desse caminho cansativo que encontramos a Cristo, Aquele que nos garante que seu jugo é suave e seu fardo é leve. Pois quando passamos a viver submersos em seu amor, a serviço do próximo, percebemos que toda dificuldade, por mais difícil que possa ser, acalenta e tranquiliza o coração, pois é para o bem comum. Que possamos viver a prática do amor-serviço através de nossos corpos!

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