Museu Virtual: radiovizinho, música e início da ditadura - a podcast by Peças Raras

from 2020-06-27T14:49:10

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Por Amanda Thomaz – aluna de Rádio e TV/FAAP


Dona Izabel é a nossa convidada de hoje. Vamos começar voltando lá atrás, quando iniciou sua relação com o rádio. Bom, sua primeira infância não foi das mais privilegiadas e a única forma de seus pais terem alguma informação era pelos rádios de seus vizinhos. Eles aumentavam o som para que a vizinhança conseguisse ouvir as músicas e as notícias que eram transmitidas por aquele meio.


Na sua juventude, ainda pobre, continuava consumindo rádio pelos vizinhos que tinham um pouco mais de dinheiro e conseguiam comprar o aparelho.


Izabel começou a trabalhar cedo, aos 13 anos, iniciou como doméstica, e nas casas de seus patrões ouvia rádio enquanto trabalhava e cozinhava para eles. Ela amava cantarolar durante o trabalho, e segundo ela, não fazia feio no serviço. Sempre que podia, sintonizava no canal onde tocava música, desse jeito sentia que o tempo passava mais rápido e se divertia fazendo suas tarefas domésticas.


Nessa época que começou a trabalhar, conheceu Sr. Luiz Carlos, quando iam nos cultos de sua igreja. Namoraram por três anos e se casaram. Logo que começaram a melhorar um pouco de vida, Sr. Luiz comprou um rádio de pilha para a casa deles, e o deixava com Dona Izabel enquanto ia trabalhar. O que a jovem mais consumia era certamente música, pois passava o dia em casa arrumando o pequeno cômodo onde moravam enquanto o marido não chegava do trabalho.


Em 1963 tiveram sua primeira filha, Rosemary, e como a maioria das mulheres daquela época, ficava em casa cuidando de sua filha enquanto o marido ia trabalhar. Dona Izabel relatou que seu grande companheiro naquela época foi o rádio, pois passava o dia todo sozinha cuidando da casa e de sua recém-nascida. Naquela época estavam ocorrendo muitos movimentos políticos e foi pelo rádio que ela escutou que a ditadura havia estourado.


Em sua descrição sobre esse acontecimento, contou que ao ouvir a notícia ficou extremamente assustada, que seu marido estava fora de casa e que seus vizinhos esvaziaram a rua imediatamente após a notícia. Percebi que, ao contar esse fato, sua respiração ficou ofegante e ansiosa, como se tivesse revivendo aquele momento.


Hoje em dia, Dona Izabel acha que consome mais TV do que rádio. Seu contato com o rádio se dá mais quando entra no táxi para ir ao mercado ou quando vai passear com seus filhos e netos, apesar de dizer sentir falta de ligar o rádio e cantar junto com ele como antigamente.


Bom galera, o Museu Virtual do Rádio me ensinou muito como as relações com o rádio mudaram daquela época pra cá. Era pelo rádio que grandes acontecimentos eram noticiados e como a relação com eles era bem mais próxima da que temos hoje.


Agora com a chegada de podcasts, espero que tenhamos uma relação mais estreita com o áudio, voltando a adaptar nossos ouvidos.



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